sábado, 19 de janeiro de 2013

O processo de comunicação entre os indivíduos através da linguagem verbal depende sobretudo da audição que, sem dúvida, constitui um fator importantíssimo no contato da criança com o mundo. A comunicação refere-se às diferentes formas utilizadas pelos indivíduos na transmissão de informações, as quais devem, necessariamente, responder a regras e a códigos que possuam significados. Nesse processo, a função auditiva é não somente importante como bastante complexa; o ouvido funciona como uma ponte entre o mundo exterior e o sistema nervoso, adaptando informações vibratórias e transmitindo sinais temporais. As modificações na função auditiva alteram consideravelmente a percepção do meio e toda a construção psicofisiológica do mundo pela criança (Lafon, 1989). A deficiência auditiva é entendida como um tipo de privação sensorial, cujo sintoma comum é uma reação anormal diante do estímulo sonoro (Gagliardi & Barrella, 1986). Em geral, os vários tipos de deficiência auditiva são classificados de acordo com o grau de perda da audição que, por sua vez, é avaliado pela intensidade do som, medida em decibéis (dB), em cada um dos ouvidos (Marchesi, 1996). Segundo esse autor, o momento da perda auditiva tem clara repercussão sobre o desenvolvimento infantil. Quanto mais idade tiver a criança, e quanto maior experiência com o som e com a linguagem oral ela possuir, mais facilitada será a sua posterior evolução lingüística. Os efeitos da restrição de experiências de linguagem têm sido tradicionalmente associados a caracterizações estereotipadas da pessoa surda, a quem se atribui traços como pensamento concreto, elaboração conceitual rudimentar, baixa sociabilidade, rigidez, imaturidade emocional etc. (Góes, 1996). Para Marchesi (1996), a criança surda não tem, em geral, habilidades sociais suficientes para iniciar normalmente as interações, para controlar o desenvolvimento das mesmas e para satisfazer as necessidades dos outros. Porém, quando a criança possui um bom nível de linguagem (oral ou gestual), e quando seus colegas (outras crianças surdas) também a utilizam, o tipo de relação que se estabelece, incluindo a freqüência das mesmas, é semelhante à que ocorre entre duas crianças ouvintes. Assim, a identificação e intervenção precoces da perda auditiva em bebês e crianças pequenas adquirem importância crucial para o processo de adaptação do indivíduo ao mundo. Nesse processo, o adulto desempenha o papel principal, sendo o maior responsável pela sintonia estabelecida com a criança e por facilitar as trocas comunicativas entre ambos. Por exemplo, em se tratando do processo de aquisição da linguagem, a adequação mútua nas "conversações" mantidas sobre os objetos, a troca de olhares, gestos e expressões e a incorporação da linguagem da criança surda por parte do adulto são alguns dos elementos que contribuem para o estabelecimento de uma linguagem fluente e satisfatória (Marchesi, 1996). No entanto, o mesmo autor comenta que as observações e estudos realizados sobre as relações entre genitores e crianças surdas na etapa pré-escolar indicam uma alta probabilidade de que as interações diminuam, devido às dificuldades de comunicação da criança surda. Nos estudos sobre as crianças surdas, as investigações sobre a interação social, em geral, tendem a misturar-se às que analisam a competência e o desenvolvimento comunicativo, sendo difícil diferenciar, nitidamente, as duas dimensões. No entanto, a interação social pode ser estudada não somente como elemento constituinte do processo de ensino-aprendizagem, já que esse processo se realiza a partir da ação conjunta de vários fatores, mas também como dimensão específica do desenvolvimento e, consequentemente, como um processo no qual intervêm um conjunto de fatores comunicativos (Marchesi, 1996). Assim, cientes da importância do papel das interações sociais para o desenvolvimento da criança são apresentados, a seguir, estudos que discutem algumas questões relativas às interações e relações interpessoais, especialmente da criança surda e seus familiares. Tais questões são relevantes para a compreensão do desenvolvimento sócio-emocional do deficiente e de seu processo de adaptação ao mundo.

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